Fabiu: Deixar os animais em paz é uma das
coisas, mas há muito mais a ser feito como barrar consumismo, se envolver com
estudos e aplicação de práticas em permacultura vegana, não frequentar
supermercados e shoppings, desligar a TV, andar de bicicleta como transporte, cumprimentar
as pessoas na rua, etc. Ainda falta muita coisa a se fazer.
9- Ouvi dizer que você
vende camisetas para ajudar na consciência sobre o veganismo e que faz um
delicioso queijo vegetal para venda. Como começou essas ideias e como as
pessoas podem adquirir esses produtos?
Fabiu: Não gosto de chamar
de produtos, pois não vivo das camisetas e não estou sob a lógica de mercado. A
ideia das camisetas começou em 2009 e teve início em 2010 com o intuito de fazer
algo de acesso popular em nossa língua portuguesa. Eu repasso uma ideia, sem
marca, nem ONG, instituições ou apoio de corporações e governos. Toda verba
arrecadada volta para a continuidade do próprio projeto, que não leva meu nome.
O preço popular de R$ 9,90 já fala por si só e vem sendo mantido desde o começo.
Eu não vivo disso e por esse motivo já são mais de 3 anos sem aumentar o valor, e segundo estimativas
assim será possível até completar 5 anos de projeto, no meio de 2015. É uma
iniciativa que na própria prática quebra qualquer ideia de elite. O projeto tem
sua alma. É uma atividade extra em minha vida que não envolve as energias do
dinheiro. Meu maior lucro são as amizades espontâneas que florescem por todo o
país.
Não divulgo de porta em porta. As pessoas interessadas entram
em contato comigo e disponibilizo. A grande massa das encomendas é feita em meu perfil pela internet e eu
envio pelos correios dentro de caixas de suco reutilizadas, ou então quando me
encontram pelas ruas e eventos. Pega quem procura e sente a necessidade de usar
uma palavra que ainda não temos em nosso dicionário. Parece que finalmente esse
termo surgido em 1944 vai entrar para alguns dicionários brasileiros nesse ano
de 2014, sete décadas depois.
Quanto mais cedo uma pessoa tem contato com o termo e seu
significado, mais cedo é ampliada a possibilidade de passar a considerar
eticamente os animais e exercer esse respeito. É muito fácil ser vegano.
Quanto ao QueijoVegano que hoje faço e chamo de Vegão,
surgiu naturalmente por eu ser um ex-dependente químico de queijos. Meu
processo para abolir foi idêntico ao de ex-drogados, com a agravante de que eu
não estava fazendo mal só pra mim, mas também aos animais e ecossistemas. Descobri
sobre os opiáceos morfínicos presentes no leite quando li o livro Galactolatria. Me culpei por muito
tempo quando não conseguia parar com os queijos sem saber que no queijo esses
opiáceos são 10 vezes mais concentrados (manteiga 40 vezes e ghee 60 vezes
mais). Eu me sentia mal pois minha consciência duelava com meu vício. No início
fiz até uma comunidade num fórum do Orkut que reúne gratuitamente mais de 50
receitas de queijos vegetais. Sou mais viciado em queijos do que os mineiros e
aboli esse uso. Toda essa luta contra o vício resultou na produção de um queijo
que hoje faço. Sou muito crítico e acabei desenvolvendo um queijo que realmente
tem sabor de queijo, sem usar soja nem 10 litros de leite roubado das vacas pra
cada quilo, todo sofrimento e poluição que o queijo animalizado deixa no
planeta Terra, além do estratosférico desperdício de recursos e infinitas
mazelas a nossa saúde.
O Queijo Vegano que
faço (Vegão) é um queijo para todas
pessoas, não só para veganos. É um queijo artesanal sem lactose, sem caseína, sem
coalho animal, sem pus, sem colesterol, sem glúten, sem soja, sem transgênicos
nem corantes. Por não escravizar e nem matar animais acaba deixando um menor
impacto sobre o planeta, pois não desvia milhares de grãos e nem milhões de
litros de água para produção de sua matéria prima. Por consequência, não deixa
toneladas de excrementos, nem gás metano; problemas de todos os laticínios.
É trabalhoso e perecível, por isso faço só por encomendas ou
então para eventos que me convidarem, tudo a R$ 5 a unidade. Esse ano vou
completar 5 eventos como queijeiro, desde agosto quando comecei essa
distribuição, e a alta aprovação tem feito com que eu continue para realizar
meus sonhos de autonomia.
10- Muitas são as pessoas que gostam de
animais, mas pela cultura egoísta e já enraizada pela sociedade dizem não
conseguir parar de comer carne, pois é muito difícil e o sabor é muito bom, o
que você falaria para elas?
Fabiu: Repito que
o problema não está só na carne. Por exemplo, há mais sofrimento e mortes envolvidos
nos laticínios e ovos do que na própria carne. Independente do tipo de
exploração e vício, podemos refletir sobre nossos prazeres buscando outras
formas de saciá-los, sem intervir na liberdade de outros indivíduos. O planeta
é muito vasto para se apegar na picuinha da exploração animal.
Tem um áudio, com dicas
práticas e efetivas, que sempre indico para as pessoas que dizem considerar os
animais, mas que ainda estão com dificuldades em adentrar em forma de ações
reais nesse processo, segue o link para audição: http://soundcloud.com/fabiochaves/podcast-fracione-portuguese
11- Deixe
aqui uma frase que você mais gosta sobre a causa.
Fabiu: "Não é demonstração de saúde ser bem ajustado a uma sociedade profundamente
doente." Jiddu krishnamurti
1 comentários:
Muito interessante a entrevista!
Eu me considero uma defensora dos animais, sou vegetariana, quase todos os meus animais foram adotados (e não comprados) e sempre participo de campanhas de adoção.
Ainda não sou vegana, mas estou gradualmente reduzindo meu consumo de produtos de origem animal e incluindo outros alimentos mais saudáveis e totalmente livres de crueldade.
Tenho tratado um pouco sobre esses temas no meu blog, e conhecer o seu foi uma grata surpresa!
Beijo
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